Uma dúvida muito comum apresentada pelos clientes em consultório do nefrologista é o benefício, ou malefício, de dietas, medicamentos e suplementos. Desses últimos é que vou escrever um tanto neste artigo.
Suplementar é suprir algo que falta. Assim,
faz todo sentido repor aquilo que é necessário e está faltando ao organismo
humano. Mas é na indefinição do que é realmente necessário que se encontra o espaço
para a desonestidade na oferta dos suplementos vitamínicos.
Recebo, com muita frequência, em meu
consultório, jovens que fazem “suplementação vitamínica”, mas que manifestam uma
pertinente preocupação com algum possível malefício dessa prática. Como muitos
desses jovens aparentemente são mais saudáveis que a média de todos nós,
pergunto qual a razão para essa
suplementação. A resposta frequente é que estão em busca de algo que eles “sentem”
que lhes falta: um desempenho físico ou cognitivo melhor; uma capacidade maior
de suportar horas de trabalho, estudos e lazer; uma melhora estética na
consistência da pele; maior resistência dos cabelos e unhas; uma “melhor
imunidade”.
Primeiro, recorro ao bom senso: será que
não seria melhor dar um repouso merecido ao organismo para obter o que eles
“sentem” que lhes falta? Como está a alimentação? Qual a evidência objetiva de
que falta tal ou qual vitamina? De onde vem a informação de que é necessária a
suplementação? Regra geral, a resposta é: “ouvi dizer que é bom”; “na academia,
muita gente toma ....”; “a alimentação funcional explica que ...”.
Desde os tempos da cura do escorbuto,
doença mortal que, no passado, atacava os marujos em alto mar, a suplementação
vitamínica tem ares de magia. Se uma pílula salvava vidas, não poderia ela nos
permitir atravessar a noite estudando ou dançando e, no dia seguinte, trabalhar
o dia todo, sem cansaço?
Infelizmente, não há pílulas mágicas. Afirmar
que um organismo complexo, com bilhões de células, e que depende de hábitos
saudáveis continuados para manter seu equilíbrio delicadíssimo, pode ter tudo
solucionado apenas com uma pílula é de uma criatividade quase inocente! Tal como
ocorre com qualquer equipamento mecânico, forçar o organismo além de sua
capacidade vai trazer algum dano ou limitação a longo prazo. Não é possível
repor esse prejuízo “suplementando”, pois não é o que falta, mas o que está em
excesso que deve ser corrigido.
Quando essa argumentação não é suficiente
para fazer o jovem desistir de seu intento equivocado, apresento então
informações científicas. E o que diz a ciência sobre a suplementação de vitaminas
em indivíduos saudáveis? Há uma torrente de experimentos científicos tentando
provar seus benefícios na redução do risco de doenças cardiovasculares e no
retardamento do envelhecimento, entre outros. Mas o resultado de todos esses
experimentos é que a suplementação vitamínica, em quem é saudável, não serve
para nada! Literalmente, é despejar o produto no vaso sanitário, pois é
eliminado sem trazer qualquer benefício para o organismo.
Mas o problema não está apenas no
desperdício. E aí entra a preocupação médica maior: a suplementação de
vitaminas ou de alguns outros elementos pode provocar danos à saúde. Por
exemplo, a suplementação de doses elevadas de vitamina E, na tentativa vã de
bloquear o envelhecimento, pode aumentar a mortalidade. O uso de cálcio,
isoladamente ou em combinação com vitamina D, em quem não tem deficiência, está
associado a risco maior de infarto agudo do miocárdio e acidentes vasculares
cerebrais (AVC).
Acredito que muitos desses jovens com quem
converso no consultório acabam convencidos de que devem suspender a tal
“suplementação”, mudar hábitos
alimentares e adotar um estilo de vida
saudável. Mas sei que boa parte deles acha mais fácil acreditar que a solução
se encontra em uma pílula. Eles vão ao consultório médico em busca de um passe
de mágica. Não buscam a verdade.
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