Luiz Claudio Castro
Um assunto muito comentado nos últimos anos é a
vitamina D. Essa atenção tem seu lado bom, pois reflete o cuidado com a saúde.
Temos visto, porém, um certo exagero em relação a essa preocupação com os
níveis de vitamina D e uma grande ansiedade das pessoas por suplementá-la. Isso
porque tem circulado uma ideia errada de que “todo mundo está com níveis baixos
de vitamina D e suplementar não faz mal”. Deficiência de uma substância não é
bom para o organismo, mas o excesso também é prejudicial.
As vitaminas são substâncias essenciais ao nosso
organismo. Não conseguimos, porém, produzi-las em quantidade suficiente, por
isso precisamos necessariamente obtê-las a partir dos alimentos. Entretanto,
diferente do que acontece com as outras vitaminas, apenas 10 a 20% da vitamina D presente no nosso corpo vem da
alimentação, sendo as principais fontes os peixes gordurosos de água fria e
profunda, como o salmão e atum, e os fungos comestíveis. Todo o restante é
produzido por nosso próprio organismo, a partir de substâncias que estão
armazenadas na nossa pele. E para que esse processo ocorra, é fundamental uma
adequada exposição ao sol, pois são os raios ultravioletas B da luz solar que
iniciam a ativação da vitamina D na nossa pele.
Tradicionalmente, a vitamina D é reconhecida por sua
importância na saúde dos nossos ossos, pois participa do controle das
quantidades de cálcio e fósforo no nosso corpo. Essa, porém, ainda é uma
questão em discussão entre vários especialistas. Atualmente, o que se sabe é que
a vitamina D é uma importante reguladora de funções do nosso organismo, como produção
de antibióticos dentro de nossas células (protegendo-nos contra infecções
provocadas por vírus, bactérias e fungos), regulação da nossa imunidade (controlando
a produção de anticorpos e células de defesa que nos protegem) e coordenação da multiplicação de algumas
células (protegendo-nos contra alguns tipos de câncer).
Não está indicado usar vitamina D para se proteger do
diabetes, artrite reumatoide, hipertensão arterial, ou alguns tipos de câncer. Os
estudos não mostram nenhuma relação de causa-efeito entre baixos níveis de
vitamina D e essas doenças. Não se devem abandonar os tratamentos bem
estabelecidos, que oferecem reconhecida segurança e eficácia para esses
problemas.
A suplementação de vitamina D deve ser feita apenas nos
casos de deficiência ou se houver fatores de risco para deficiência. Pessoas
que vivem em locais onde a luz solar não é constante ao longo do ano, como nas
regiões de clima frio e com inverno mais rigoroso, merecem receber
suplementação de vitamina D, pois não conseguem ativá-la na pele. No Brasil,
esse fato ocorre em algumas regiões dos estados do Sul, na época de inverno. Caso
haja contraindicação à exposição solar ou dificuldade em garanti-la, e no caso
de pessoas que tenham doenças e usem medicamentos que podem diminuir a
quantidade de vitamina D que nosso corpo produz, está também indicada a
suplementação.
Já, a prevenção contra a deficiência de vitamina D deve
ser para todos, e a melhor maneira é garantir uma adequada exposição ao sol. É preciso,
sim, ter cuidado com a exposição, pelo risco de câncer de pele, mas não devemos
ser radicais a ponto de fugir do sol ou fazer uso exagerado dos protetores. O
ponto de equilíbrio é expor-se ao sol na medida correta, pois ele é importante
para nossa saúde.
Precisamos valorizar a maneira natural de nosso corpo
produzir vitamina D. Atividades físicas ao ar livre, como uma caminhada, além
de fazer bem para o coração e para os ossos, permite que nosso organismo
produza vitamina D. É preferível essa vitamina D naturalmente produzida à
comprada em farmácias.
Os estudos mostram que não há benefício algum em
suplementar vitamina D em pessoas com níveis normais. O excesso de vitamina D
não é adequado e pode causar complicações, como aumento da eliminação de cálcio
pela urina e formação de cálculos renais. Por que correr o risco?
Luiz Claudio Castro
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Graduação em Medicina e em Geologia pela Universidade
de Brasília
·
Residência Médica em Pediatria e em Endocrinologia
Pediátrica pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina
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Doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade de
Brasília
·
Professor do Departamento de Pediatria da Universidade
de Brasília