Ter um filho é o maior exercício de amor incondicional. Mas, embora saibamos que um pouco de dor e sofrimento são ingredientes necessários para o seu amadurecimento, nós (mães e pais) gostaríamos de livrar nossos filhos de todos os males.
Na busca por evitar que adoeçam, oferecemos
alimentos saudáveis, incentivamos a prática de atividade física, levamos ao
pediatra regularmente e damos as vacinas necessárias. Práticas certamente muito
eficientes. Alguns pais, porém, excedem esses cuidados básicos e querem, por
exemplo, dar suplementação de vitaminas ou pedir exames, mesmo quando não são
necessários.
Sobre exames, nós, pediatras, muitas vezes somos
forçados a solicitá-los apenas para tranquilizar os pais, que temem que seu
filho tenha alguma doença ainda não revelada. Já ouvi de algumas mães que
trocaram de médico porque o anterior não pedia exames...
Mas qual o problema de se fazerem exames?
Não é bom saber se existe algo que o médico não está percebendo? Existe alguma contraindicação
em se fazerem exames indiscriminadamente?
Existe sim!
O risco de um deles vir alterado, ou seja,
de dar “positivo”, mesmo na ausência de doenças, existe e aumenta quanto maior o
número de exames realizados. Sem falar dos exames de imagem, que podem revelar
os “incidentalomas”, que são “achados” sem repercussão clínica (como alguns
cistos no rim, por exemplo). Ou seja, a pessoa pode passar a vida toda com
esses cistos mostrados no exame sem ter qualquer problema. E além dos alarmes e
preocupação desnecessária com alguns resultados, é preciso lembrar que exames
como tomografia expõem o indivíduo a uma carga de radiação até 700 vezes maior
que a de uma radiografia comum, a qual, já se sabe, não é totalmente inócua.
Entendo a preocupação dos pais. Eles
insistem nos exames, com medo de uma doença silenciosa que poderia ser evitada
o quanto antes. Uma dessas doenças é o diabetes, pois sabemos que metade das
pessoas com diabetes do tipo 2 não sabe que tem a doença. Isso é verdade para
adultos, mas não para crianças. O diabetes que mais afeta as crianças e
adolescentes é o do tipo 1, que causa muita sede, urina em excesso,
emagrecimento e fraqueza. Elas podem ter diabetes do tipo 2 se estiverem acima do
peso. Portanto, só se deve fazer exame de glicose se a criança estiver acima do
peso ou com algum dos sintomas citados.
O exame, bem indicado, é uma ferramenta
complementar de diagnóstico muito importante. Seu resultado, porém, não deveria
ser a única informação a orientar a decisão médica. O foco exclusivo nos
resultados de um exame, sem considerar o estado geral do examinado, pode levar
a diagnósticos equivocados.
Foi o que aconteceu com um menino que atendi há alguns meses em meu consultório. Ele tinha recebido um diagnóstico errôneo de diabetes. Mesmo sem ter qualquer sintoma, baseado apenas em um exame alterado, o menino foi orientado a não comer mais qualquer tipo de doce. Emagreceu muito, ficou triste, a família deixou de frequentar as reuniões festivas para que ele não passasse vontade, até que um parente sugeriu que buscassem uma segunda opinião.
Foi o que aconteceu com um menino que atendi há alguns meses em meu consultório. Ele tinha recebido um diagnóstico errôneo de diabetes. Mesmo sem ter qualquer sintoma, baseado apenas em um exame alterado, o menino foi orientado a não comer mais qualquer tipo de doce. Emagreceu muito, ficou triste, a família deixou de frequentar as reuniões festivas para que ele não passasse vontade, até que um parente sugeriu que buscassem uma segunda opinião.
O exame realmente apresentava uma dosagem
de glicose um pouco acima do normal, mas o garoto não tinha sintomas de
diabetes! Expliquei para os pais que costumo tratar o paciente e não os exames,
e liberei a dieta. Nunca vou me esquecer do sorriso no rosto daquele menino
quando soube que ia poder comer brigadeiro de novo! Um novo exame, feito algum
tempo depois da liberação da dieta, mostrou níveis normais de glicose.
Fico pensando em quantos pacientes são encaminhados
a especialistas por causa de exames alterados e que muitas vezes não eram
necessários. E por causa disso, são levados e fazer mais e mais exames, para
tentar descobrir o que levou a essa alteração, até se ter a certeza de que era
apenas um exame anormal numa pessoa normal.
Suely
Keiko Kohara
- Graduação
em Medicina (UFPR - 1986).
- Residência em Pediatria e Endocrinologia Pediátrica (HC-UFPR).
- Mestrado em Saúde da Criança e do Adolescente (HC-UFPR)
- Fellow em Endocrinologia Pediátrica (Sheffield Children’s Hospital - Inglaterra).
- Professora do Curso de Medicina da Universidade da Região de Joinville.
- Residência em Pediatria e Endocrinologia Pediátrica (HC-UFPR).
- Mestrado em Saúde da Criança e do Adolescente (HC-UFPR)
- Fellow em Endocrinologia Pediátrica (Sheffield Children’s Hospital - Inglaterra).
- Professora do Curso de Medicina da Universidade da Região de Joinville.
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